DISCOS: Three Fish "The Quiet Table"

Três músicos juntaram-se – Jeff Ament (Pearl Jam), Robbi Robb (Tribe After Tribe) e Richard Stuverud (Fastbacks) – e criaram uma banda de rock místico. Não vou muito à bola com rótulos para bandas, mas este parece querer assentar que nem uma luva. Formaram-se, então, os Three Fish.
A banda não é necessariamente nova, mas só agora me chegou às mãos o álbum “The Quiet Table”, o segundo do trio e último até à data, lançado em 1999. Mas nem seis anos são muito tempo, nem as músicas «cheiram a velho».

Dos doze temas que o compõem, destaque para o perturbador “Shiva and the Astronaut” que abre o alinhamento, seguido de “Tremor Void”, que partilha com o distinto toque “fretless” de Ament a esperançosa voz de Robb. Começam a surgir os elementos que denunciam a inspiração que fez verter “The Quiet Table”: segundo a própria banda, uma viagem ao Egipto. Que “Myth Of Abdou” não procura sequer esconder. «Come see for yourself!», repete Robb pouco antes de a sua voz se dobrar e desdobrar em inteligíveis arabescos proferidos na língua de Shakespeare.
Outro dos pontos altos de “The Quiet Table” é “Hummingbird” que, após o desarranjo de “All These Days” e sequente reunir de forças em “Timeless Hummingbird”, relança os Three Fish no escuro, à procura da verdade, com a sentida voz de Robb como lanterna.
“My Only Foe” recorda-nos de que foi Ament quem compôs alguns dos mais outonais temas dos Pearl Jam e, em “Resonate”, a alma e voz de Eddie Vedder parecem vir à superfície. Mas não passa de uma coincidente semelhança.

Terminamos com “Chantreuse”, perdidos numa qualquer Medina egípcia, ao cair do crepúsculo, embevecidos pelas melopeias, pelos odores, pelo fumo que sai dos botequins, pelo vozear de orações e vendilhões.
Se ficaram com a ideia de que isto é uma cópia de Pearl Jam, esqueçam tudo o que leram. Se o conhecedor da obra do quinteto de Seattle reconhece aqui alguns pontos de contacto, isso não significa que as bandas sejam sequer semelhantes. São antes parentes, com identidades independentes.
Quanto a “The Quiet Table”, o veredicto: aconselhável a quem se interesse por ver como o rock pode sair da cidade e vaguear pelo Mundo; imprescindível para místicos, seres profundamente filosóficos e “grungers” que ainda não deixaram apagar por completo a chama. "Come see for yourself..."
(7/10)