AO VIVO: Animal Collective - Via Latina Coimbra
Se os registos anteriores (Here Comes the Indian de 2003 e Sung Tongs de 2004) eram pautados por uma sonoridade mais rispída e de digestão auditiva mais prolongada, Feels está mais próximo do formato canção (o que terá porventura "ofendido" alguns fans mais radicais).
O concerto a que assisti no passado dia 18 de Outubro foi exactamente o encontro quase perfeito entre esses dois universos paralelos dos Animal Collective. Os quatro músicos subiram ao pequeno palco da discoteca coimbrã de forma descontraída, e desde logo se percebeu que iria ser uma experiência intensa. Um guitarrista irrequieto, um vocalista que também toca guitarra e canta com a irreverência de Wayne Coyne (Flaming Lips), um manipulador de sons e ruídos com uma pequena lanterna na cabeça, que faz o papel de "incendiador imparável", e um baterista/percussionista com a irreverência de Moe Tucker, foram os ingredientes que fizeram do concerto dos Animal Collective uma experiência que várias vezes passou a barreira da anarquia sonora (elogio), mas que de seguida voltava ao cânone do formato canção/melodia mais puro e prodigioso.
As incursões pelo primeiro album foram uma constante. A circularidade das canções, os devaneios vocais, não sei se de Avey Tare ou se de Panda Bear (o projecto Animal Collective nasceu da parceria entre os dois músicos), uma vez que não estou de todo familiarizado com a história da banda. Daí talvez a minha curiosidade em espreitar este concerto de apresentação à Europa. A meio do concerto dei conta de que estava totalmente concentrado nessa força centrífuga que emanava do palco.
Foi mais ou menos a meio do concerto que esse acumular de sensações, e de alguma tensão atingiu o clímax. A partir daí o ritmo abrandou e a circularidade dos temas de que falei acima acabaram por roçar a redundância, que no caso dos Animal Collective penso ser uma exploração intencional. Antes do final e em contraponto (e é aqui que reside a mais valia da banda) a essa fase anterior mais arrastada e ruidosa aconteceu mais uma maravilha: vocalizações devedoras do espírito Beach Boys, harmonia lenta e arrastada, como que nos preparando para a libertação de toda a tensão que foi sendo acumulada durante a hora e meia de concerto, enfim, um mimo. A banda fez um encore, bastante aplaudido pelo público presente acabando um concerto que penso não ter deixado ninguém indiferente.
AAhh e é verdade, o tão badalado concerto no cacilheiro no meio do Tejo acabou por não acontecer, acabando por ser apenas o pretexto para a primeira viagem da noite que ligou o Cais do Sodré à Doca de Cacilhas, onde começou nova viagem (esta das emoções).